terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Calota Cranian ...... Caixa Preta? Caixa de Surpresas?

Hoje atendi uma pessoa que trabalha conosco mas que encontra-se afastado.
Claro que não citarei nomes , até porque não interessa, uma vez que não é a discussão de um caso mas , sim de uma condição que pode afetar-nos a todos que será levantada aqui.
Pela manhã recebo uma ligação dos chefes do rapaz. Assustadíssimos com o fato de terem que conviver de perto com uma pessoa portadora de distúrbios psiquiátricos, ao divisarem o rapaz no escritorio me ligaram incontinenti.
É uma reação muito comum não? Nesta hora todos nos vestimos com as nossas mais finas vestes de "pessoas normais" e , talvez como forma de afirmar para nós mesmos o nosso status de "normal" , optamos por sublinhar a patologia alheia.
Pedi que conduzíssem o rapaz ao meu gabinete e quando chegou o fiz entrar sem demora.
Aí começa a narração do rapaz e a minha divagação que compartilho aqui com vocês sem medo de despir-me de meu traje de "normal" .
O rapaz que chamaremos de R a partir de agora , entra , me cumprimenta efusivamente e eu diretamente pergunto o que ele fazia no escritorio dele uma vez que sabia que estava afastado.
R me responde que sim , sabia, mas que não tinha ido trabalhar, mas sim, por estar entediado em casa e tendo compromisso em local próximo, resolveu passar para cumprimentar os amigos do trabalho....Pensei eu...Quantas vezes já não fiz isso eu próprio...Comparecer ao local de trabalho estando em férias ou de folga...pensei ainda...Bem. Não deixa de ser uma " loucura " mesmo...
Aproveitando a conversa, perguntei como andava seu tratamento psiquiátrico, já que seu acompanhamento ocupacional é feito por um dos membros da equipe que trabalha comigo, e embora receba relatórios semanais não havia ainda conversado com ele.
Então , R começa a descrever um quadro caleidoscópico que me faz por momentos parar e pasmar.
Diz que , desde pequeno, sabe que era especial. Tentando esmiuçar mais este termo especial, perguntando como definiria aquilo. R disse que sabia que tinha poderes divinos. Que fazia previsões olhando as nuvens, as pessoas.
Conversava com Marx, Engels e Lenin. E recebia conselhos de seu pai, falecido ha 24 anos.
Sentia-se incomodado por ter que moldar sua linguagem de acordo com os varios ambientes que frequentava (R tem origem humilde) , usando uma comunicação mais ou menos rebuscada de acordo com o lugar e a situação.
Diz ter medo de si próprio devido aos supostos poderes que diz usar somente para o bem.
Então começei a divagar.....
Como vai longe e por caminhos completamente inusitados , sinuosos e estranhos a nossa mente....
Nós que vivemos buscando uma causa para tudo, que nos permita estampar um rótulo sobre a doença, situação ou condição, de maneira que obtenhamos algum conforto e possamos passar à próxima rotulação....
Como lidar com isso? Como rotular isso?
Vá lá...Esquizofrenia?Disturbio de Personalidade? .....Chame do que quiser...Mas o que é isso efetivamente???
Será que todos nós temos, camuflado, este caminho em nós, como um atalho que nossa mente evita tomar por difícil que possa ser o retorno?
Porque será que este atalho é tomado ? O que precipita isso?
Tantas pessoas luminares já pesquisaram isso e no entanto, ainda continuamos basicamente na mesma etapa....
Outras, optaram por descobrir o maravilhoso lado artístico que esses " atalhos" trazem talvez pela desinibição que carreiam em seu rastro..Como a Dra Nise da Silveira, discípula direta de Carl Jung e introdutora da Psicoterapia Jungiana no Brasil.
Nise desenvolveu o lado lúdico e artísticos em pacientes psicopatas com excelentes resultados terapêuticos alem de obras artísticas belíssimas , que podem ser vistas no seu Museu no Rio de Janeiro.
O fato é que ficamos pensando....Como nossas mentes tão certinhas e normalmente adestradas ao nosso dia a dia, podem dar passeios tão longínquos? Longínquos o bastante para , por vezes , não retornar ao seu sítio de origem?
Como deve ser estar dentro desta mente....
Bem...Subitamente fui interrompido por R...Me perguntando se no domingo poderia ajudar um colega que o havia solicitado no trabalho.....Provavelmente um daqueles que ligou assustado com sua presença....
Deixo pra vocês pensarem , pois eu tambem vou pensar em como é estranha e fugaz a
"normalidade" em que vivemos...
Beijos

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