segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

ITALINDIANA...OU.......CURRY A BOLOGNESE...


Confesso que a Índia sempre me encantou. Primeiro me conquistou pela boca. Sua culinária há muito me fascina. O Mundo dos curries, byrianis e afins sempre me abriu o apetite... Um tempo depois, descobri, pelas mãos de um meu amigo, Gautama Dias, os poderes aromáticos, gustativos e ,acho até, afrodisíacos do Cardamomo,essa vagenzinha cheia de personalidade que confere à comida Indiana e aos Tchais (chás) um sabor que todos nós sempre nos perguntamos de onde vinha... Quando trabalhei (e trabalho até hoje) com indianos, pude constatar que este povo de cultura milenar, um dos povos mais antigos do Mundo, é muito, mas muito mais do que curries e byrianis... A Índia é um país de muitos países.... O Norte pouco ou nada tem a ver com o Sul, havendo até mesmo intolerâncias extremas Raciais mesmo. Inúmeras e por vezes agressivas e sanguinárias disputas religiosas, entre Hindus , Muçulmanos e Sikhs. Um milenar sistema discriminatório de castas, o qual até hoje confesso não entender direito, talvez por absurdo que o pense , que permite a existência de uma casta de "intocáveis" , os quais como o nome diz, não podem ser tocados por seus irmãos indianos. Indianos que conheci submetendo-se a trabalhar na Africa tendo que oferecer os salários referentes aos 6 primeiros meses de trabalho como pagamento ao agente que os recrutou e somente então, podendo enviar algo para suas famílias. Ainda assim, todos eles, donos de uma doçura e uma candura ímpares ao se dirigir a mim. Um pouco mais tarde por gente ocidental muito boa , fui apresentado ao Yoga, milenar filosofia de vida indiana, que me iniciou na descoberta de mim mesmo.
E um pouquinho mais tarde ainda ao Arte de Viver, movimento iniciado em Bangalore, por SriSri Ravi Shankar. E foi com este background todo que comecei a ler o livro " O Sari Vermelho" , que pelo título me pareceu algo do estilo do " Caçador de Pipas"...Sem insinuar qualquer demérito àquele.. Então conheci um pouco mais sobre uma "dinastia" cuja historia de confunde inexoravelmente com a da India independente. Os Ghandi.... Iniciado por Jawahralal Nehru amigo e companheiro de luta e cadeia de Mohandas Ghandi , o Mahatma, com o qual não guardava qualquer parentesco. Nehru foi o Primeiro-Ministro do Primeiro Governo indiano e um dos pais da Independência daquele país. Sua filha foi Indira Ghandi, tambem Primeira-Ministra Indiana e uma das estadistas de maior destaque nos anos 70-80, junto de Margareth Tatcher. Foi assasinada em um atentado por motivações político-religiosas. Foi mãe de Sanjay Ghandi , controverso político morto precocemente em acidente aéreo e de Rajiv Ghandi, que após entrar acidentalmente para a política foi tambem brutalmente assasinado em outro atentado tambem com motivações político-religiosas, como sói acontecer em países com forte influência religiosa xiita seja qual for a orientação. Mas a grande personagem do livro sobre a India e suas mazelas é uma Italiana de Orbassano, um pequeno vilarejo vizinho a Torino,que ao estudar o idioma inglês em Cambridge resolveu tomar um lanche em uma cafeteria. Este lanche suscitou um olhar que mudaria sua vida completamente... Ali, conheceu Rajiv Ghandi com quem se casou e teve 2 filhos, Rahul e Pryianka. Sempre tendo se comportado como uma dona de casa , mãe e primeira dama extremada , Sonia Ghandi se viu subitamente privada seu marido, e ainda subitamente instada e se enveredar pelo mundo da política, coisa a que resistiu veementemente a fazer enquanto pôde. Em meio a uma chuva de acusações xenófobas, e em um Hindi perfeito, fez varios discursos pelo país , ajudando o partido de seu esposo , o Congress Party , a estabelecer-se no poder , baseada na crença de uma India , laica, justa e equânime.... Mas a campanha pelo partido não bastava e Sônia teve que se lançar candidata , revertendo expectativas e ganhando uma eleição já considerada perdida. Diante das pressões para assumir o cargo de Primeira - Ministra (agora já "não havia" xenofobia....), mantendo assim a "dinastia" Ghandi no poder, Sônia teve sua "finest hour" ao recusar o posto, indicando pessoa de sua confiança para a posição. Mostrando desapego às coisas do poder, a "dona de casa italiana" como seus detratores a chamavam, foi mais indiana na essência do que todos os indianos. Paradoxalmente,ao renunciar ao poder, Sonia Ghandi se tornou ainda mais poderosa. O povo indiano ,que admira tanto os ideais de altruísmo e renúncia tão arraigados na religião e filosofia hindús , passou não apenas a considerá-la uma lider política , mas venerá-la como a uma Deusa e isso a tornou a pessoa mais influente da Índia moderna levando a revista americana Forbes à classificá-la como uma das três mulheres mais poderosas da Terra....Nada mal para alguém que sempre desprezou o poder... O que aprendi com Sonia Ghandi, foi na verdade que quando temos um objetivo na vida e nos atemos a ele , pouco importam os resultados desde que nos dediquemos puramente e altruisticamente àquilo a que nos propomos... Aprendamos com Sonia.... Quem quiser ler o livro , garanto que não se arrependerá... O Sari Vermelho ; Ed Planeta; Javier Moro. Um beijo e Namastê!!

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