Lussala N´Gongongo

Em Cabinda o misticismo ainda se faz presente de um modo tipicamente africano, blindado das influências ocidentais.
E foi lá que aprendi o significado de um N´Gongongo(corvo) na cultura fiote.
Na metade de um belo dia quente de verão africano, em que as nuvens já iniciavam sua reunião preparando a indefectível tempestade do final do dia, saí para correr aproveitando meu intervalo de almoço.
No campo do Malongo, a natureza nos lembrava a todo instante quem era a dona da área e veados, macacos, serpentes, morcegos gigantes e corvos eram parte do cenário diário, até mesmo dentro das instalações daquela unidade de extração petrolífera que comportava 4 mil pessoas.
Durante minha corrida encontrei uma pena de uma ave preta e branca belíssima a quem os locais denominam corvos e que têm uma enorme representatividade mística.
Recolhi a pena e fui me preparar para retomar o trabalho.
A pressa dos digitos do relógio me fez carregar a pena para a clínica , buscando um lugar próprio para depositá-la.
Chegando lá fui instado a dar minha opinião sobre um paciente e deixei a pena sobre o balcão da farmácia, comandada pelo doce senhor Ernesto Alves.
Retornei a minha sala, fui checar emails e escuto dali a pouco um grito: - LUSSALA N´GONGONGO!!!
Como gritos não eram exatamente raros por ali, sendo uma forma de expressão bastante utilizada em toda a Africa, até mesmo para brincadeiras, não achei nada de anormal até notar uma verdadeira mobilização na clínica como um todo...
Fui ver e várias mulheres que ali trabalhavam cercavam o inconsolável Alves, então muito exasperado.
Após me informar sobre o ocorrido tomei ciência de que a pena (Lussala) de corvo (N´Gongongo), era sinal de péssimo agouro, representando até mesmo para alguns a morte.
Conta a cultura fiote que em determinados lares uma criança se transforma em corvo durante a noite e vai roubar almas em casas alheias que se deparam ao amanhecer com um ente querido morto.
Isso é levado as últimas circunstâncias havendo casos,inclusive , de crianças que foram espancadas até a morte pela comunidade com o apoio de seus "Sobas" ( líderes comunitários ).
A partir daquele dia, passei só por precaução a desviar destas aves tão lindas...Mas, uma vez em Africa...
Ah....expliquei a Alves a origem da pena...